As relações interpessoais são necessárias, mas têm tanto de bom como de moroso.
Considero-me uma pessoa extrovertida desde sempre. Não sei se envelheci de repente, se conheço as pessoas erradas, se a minha mente me atraiçoou de tal forma que fui ficando fechada na minha bolha. O mundo caminha no sentido da superficialidade, é um facto, mas é tão certo como sermos donos das nossas vontades e liberdades.
Hoje em dia, apesar de ser extremamente sociável e falar a muita gente, converso com poucas pessoas. A paciência rareia e é canalizada para o que importa. Acabo por ser muito mais selectiva nas interacções. Contam-se pelos dedos das mãos as pessoas com quem gosto realmente de me relacionar e com quem me sinto com casa. E, acreditem que, mesmo assim, só me encontro com elas de lés a lés!
Sair à rua passou a ser, para mim, um pesadelo em boa parte dos casos. Continuo a gostar muito de passear e de conhecer novos sítios, mas ganhei um enorme pavor a multidões. Na maior parte das situações, deixei de ir a lojas físicas e passei a comprar muito mais (dentro das poucas compras que faço) online (especialmente vestuário e calçado).
Deixei de ter um elo de comunhão com boa parte daqueles que considerava serem meus amigos:
- Vivemos realidades diferentes. É a vida, não há queixas nisto. Há carreiras diferentes, famílias, filhos;
- Falei em filhos? Quem os tem deve sentir isto: o leque de amizades estreita bastante, como se houvesse um fosso entre duas realidades distantes – a dos que constituíram família e a dos que ainda são solteiros;
- Deixei de ter tempo e interesse por alguns assuntos banais e vectores de conversa de circunstância, pelo que acabo por ser uma espécie de extraterrestre alheada aos temas quentes da sociedade.
Ninguém tem tempo para 5 minutos de conversa, não há agenda para um café, não há saídas em grupo (em parte, a culpada sou eu, que fujo muito às tentativas de combinar o que quer que seja). Gosto de trocar umas linhas de conversa, mas existe algo que me tira do sério: os diálogos que se transformam em monólogos sobre trivialidades e que culminam com inexpressivos pois ou lol, como se a interacção fosse com um bot.
Fala-se muito, mas diz-se pouco. Ouve-se muito, mas não se escuta nada.
Tenho um feitiozinho de m****? Tenho! Mas estou convencida que não sou a única e que, vai na volta, o melhor é mesmo permanecer na penumbra da socialização. Qualidade acima de quantidade, é uma premissa válida neste domínio.
Então já “semos” dois com a mesma “tara”. Constatei – e ainda bem -, que aquela gente que pensava serem meus amigos, mesmo ex-colegas de profissão com quem quem convivemos diariamente ao longo dos anos, nalguns casos, até os ajudando quer profissionalmente, quer pessoalmente, deixam de “existir” quando por infelicidade do “destino” caímos no fosso – saltam logo fora e alguns até mudam de número de contacto -, deixam de telefonar e… pufff, desaparecem de cena! Não acredito que seja por obra e graça da globalização, porque no meu caso, nunca teria uma atitude desse género para um amigo que caísse no fosso. Também me “dessocializei” de certo tipo de raça humanóide e pelo facto de ter ficado viúvo ao fim de 52 anos de casamento, aprendi a ficar sozinho, a matar o tempo, ocupando-o com toda uma panóplia de actividades lúdicas e científicas e cá vou andando. Por estranho que pareça, eu, que era bastante comunicativo, gostava dos tais encontros de amigos no final de uma jorna de trabalho, beber um copo num barzinho, falar de milhentas coisas, hoje, não sinto necessidade disso e até estou bem comigo mesmo. Penso que extraí vários germes nefastos à minha existência.
Ainda há pouco tempo dei por mim a pensar no mesmo. Para já acho que algumas relações mudam logo quando passamos de solteiros para uma relação e imagino que ter filhos seja a “etapa” seguinte que afunila ainda mais o leque de amizades. Às vezes é mesmo assim a vida, mas é importante não nos fecharmos e não nos afastarmos de todos.
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É isso, que fiquem poucos, mas bons, e que não nos desleixemos ao ponto de ficar sozinhos 🙂 Beijinhos