Esta semana, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um parecer sobre a associação entre o consumo de carnes processadas e o aumento da probabilidade da ocorrência de cancro. A notícia foi analisada e deturpada, sendo transmitida pelos media com muito alarmismo.
Pois bem: é importante saber interpretar a informação a que temos acesso e, de qualquer forma, o que foi dito não transmitiu (quase) nada de novo.
Já todos sabíamos que comer carnes processadas em excesso faz mal.
Todos os excessos fazem mal. No mesmo saco, foram metidas as carnes vermelhas. Mais uma vez, todos sabemos que comer carnes vermelhas em excesso faz mal. Já toda a gente sabia das potenciais consequências do consumo excessivo destes alimentos e o que surgiu agora foi uma série de conclusões relacionadas com estudos comparativos entre determinados hábitos e substâncias.
Segundo o que está descrito no site da OMS, a questão das carnes processadas e das carnes vermelhas foi uma das prioridades da Agência Internacional de Investigação do Cancro, com base nalguns estudos epidemiológicos que sugeriam que havia um pequeno (pequeno!!!) aumento do risco de alguns cancros que poderia estar associado ao consumo excessivo destes alimentos.
As carnes processadas foram classificadas como carcinogénicas para os humanos, à semelhança do tabaco.
Contudo, os perigos de consumo não são iguais. O que se considera nesta classificação é a evidência científica que diz que um determinado agente é cancerígeno e não especificamente o grau de risco desse agente.
O Global Burden of Disease Project estima que haja cerca de 34000 mortes a nível global (recordem-se que há uma população total estimada de 7.3 biliões de pessoas em todo o mundo) por cancros cujas causas podem (podem, não há certezas!) estar relacionadas com o consumo excessivo de carnes processadas.
No que concerne às carnes vermelhas, é referido que não se determina que sejam uma causa de cancro, embora as dietas ricas em carnes vermelhas possam estar na origem de 50000 mortes por ano. O consumo de tabaco, o consumo de álcool e a poluição atmosférica originam um número bem maior de mortes por cancro anualmente (1000000, 600000 e 200000, respectivamente).
Não é por comerem umas fatias de bacon ou irem ao Mc da vida de vez em quando que vão morrer de cancro.
Tal como se aprende na escola e tal como é constantemente apregoado um pouco por todo o lado, já se sabia que há alimentos que devem ser mais valorizados que outros e porquê. Também não é novidade que estes alimentos polémicos contribuem não só para o aumento risco de cancro mas também de doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes, entre outras, quando consumidos em excesso.
O melhor é mesmo evitar as carnes processadas, mas também se sabe que o consumo esporádico de carnes vermelhas é importante (este detalhe é salientado pela OMS!) porque nos fornece nutrientes que não encontramos com facilidade noutros alimentos.
Mais vale prevenir que remediar.
Neste sentido, não é esclarecido pela OMS ou pelo Global Burden of Disease que acompanhamento é que foi feito aos doentes com cancros associados ao consumo excessivo de carnes processadas (e possivelmente de carnes vermelhas). Há que destacar a importância das visitas regulares ao médico e da atenção aos sintomas anormais e que podem ser determinantes perante um cenário de doença.
O melhor é mesmo manter uma alimentação e estilos de vida saudáveis, mas sem fundamentalismos. Procurem variar e equilibrar o consumo de alimentos, e sejam felizes!
Ora nem mais.
Ontem as reportagens na tv foram para o típico vox pop perguntar, como exemplo, se “vai deixar de comer francesinhas”. Clássico. Porque explicar… explicar dá trabalho!
Explicar dá trabalho e procurar informação também. Alguém estava a precisar de vender mais frangos…